Resenha Crítica
- Vanessa de Souza Oliveira
- 8 de abr. de 2016
- 16 min de leitura
História do pensamento e da prática dos grandes fundadores da Didática e da Pedagogia Moderna – Baseada na Obra: História da Educação Moderna: Século XVI – Século XX –Organização e Prática Educacionais. 2ª ed. 633 p. Porto Alegre, Globo, 1976. pp. 154-178, 277-314, 374-407 e SAMPAIO, Rosa M. Whitaker. FREINET: Evolução histórica e atualidades. 239 p. São Paulo, ed. Scipione, 1989. Material de pesquisa organizado pelo professor: José Lino Hack e resenhado pela aluna: Vanessa de Souza Oliveira.
O presente texto irá abordar fundamentalmente a história da constituição da Pedagogia Moderna, através da resenha crítica de alguns dos seus principais fundadores históricos, sendo eles: Jan Amos Comênios, Johann Heinrich Pestalozzi, Friedrich Wilhelm August e Fröbel, Celestin Freinet.
Jan Amos Comênios (1592 – 1670)
Comenius foi um grande mestre da educação, possuidor de fé religiosa, humildade, simplicidade e afetividade para com o próximo. Ele era defensor da igualdade, democracia e formação moral do homem. Foi também o fundador da didática, com princípios de educação para a vida em sociedade, com saber, virtude e piedade. Ele nasceu em Nivnitz, uma aldeia morávia, no ano de 1592. Viveu parte de sua vida na lá, passando posteriormente por vários países da Europa. As dificuldades que enfrentou na vida foram muitas. Comenius perdeu seus pais quando ainda era criança, estudou os primeiros anos na aldeia e teve muitas decepções em sua vida profissional.
Comenius defendia várias finalidades para educação. A educação deveria gerar democracia, igualdade entre todas as classes, formação moral do homem e educação para a vida em sociedade, com modéstia, sociabilidade e polidez. A função da escola seria fornecer a oportunidade para que todos estes objetivos viessem a se concretizar, trazendo para o ensino bons métodos, boas leituras e bons professores, de forma que, priorizassem a espontaneidade, relações sociais, rivalidade, boa ordem e exercícios agradáveis à aprendizagem dos alunos. Dessa maneira, a escola deveria criar situações que viessem a oportunizar ao aluno a capacidade de pensar com independência, ou seja, com seus próprios olhos e suas próprias mentes. Ele define escola materna e escola vernácula, como as duas principais fases pelas quais o ser humano deve passar para sua boa formação inicial. A escola materna começa desde o nascimento, sendo o lar a sua principal sede. Ela não se limita ao livro e compreende todos os aspectos da educação, priorizando a observação das linguagens comportamentais da criança pequena. O seu principal objetivo era o exercícios de todos os sentidos, a instrução para religião e para o convívio social. A escola vernácula traz em suas funções uma grande transformação na visão educacional da época. Ela tinha como objetivo igualar todas as crianças para uma mesma formação, independente da sua classe financeira e do sexo. Suas finalidades seriam a formação para a vida, treinamento para o ingresso na escola latina e a preparação para as profissões especializadas. A frequência nesta escola deveria ser obrigatória.
Dentre as suas psicologias educacionais, os pontos principais para mim são: Emoção e vontade; Diferenças individuais e Aprender Fazendo. Vou explicar porque: A primeira é de extrema importância a ser considerada dentro da sala de aula. Em minha opinião, professor deve ter a sensibilidade de olhar para o seu aluno e perceber todas as emoções que rodeiam a sua realidade, conseguir entender o sentimento que realmente irá aproximar o aluno de si, para consequentemente aproximá-lo de sua aula. A segunda, Diferenças individuais, se torna imprescindível , principalmente quando se fala em dificuldade de aprendizagem. O professor é o condutor de um trabalho de construção de significados. Assim, é importante que ele perceba que cada um possui a sua individualidade com suas diferenças. Dessa maneira, aquilo que é significativo para uns, se torna insignificativo para outros, bem como, aquilo que é fácil para uns, não é fácil para outros. Comenius nos diz que devemos tratar cada diferença a sua maneira e estudar métodos e estratégias para que cada um aprenda com seus conhecimentos já adquiridos. A terceira, aprender fazendo, é sem dúvida a principal teoria para a construção do conhecimento. Como já mostra várias outras teorias da educação, o construtivismo vem ao encontro de Comenius nesta concepção. O professor nunca é o transmissor de um conhecimento, mas sim um coordenador do aluno no momento em que ele sozinho constrói o seu próprio significado.
Seu método é bem pertinente quando se pensa em educação e construção do conhecimento. Ele nos faz refletir da importância de darmos suporte moral para as crianças desde que elas nascem. Devemos compreender todos os seus instintos e guiar da melhor forma sempre objetivando a formação de um ser humano, com simplicidade, humildade e amor ao próximo. Nas escolas ele ensina de forma que relacione todos os conhecimentos de mundo que a criança pode experimentar, cria significados e produz curiosidade, incentivando a imaginação.
Johann Heinrich Pestalozzi (1746 – 1827)
Pestalozzi nasceu em Zurique, na Suíça, em 1746. Seu pai era médico e morreu quando Pestalozzi ainda era criança. Logo, ele foi criado por sua mãe e por uma jovem que vivia com a família. Johann Heinrich Pestalozzi não teve muito contato com a figura masculina. Não brincava com meninos da sua idade e tão pouco ao ar livre. Dessa maneira ele cresceu com timidez e pouco desenvolveu sua motricidade, ficando pequeno e fraco. Mas ele impressionava com sua sensibilidade, generosidade e afetividade, procurando sempre ajudar as pessoas quando assim tinha oportunidade.
Na escola não aprendeu muito, pois o ensino não lhe chamava a atenção. Foi durante suas férias, no contato com seu avô, que Pestalozzi interagiu com a natureza e desenvolveu o gosto pelas coisas bonitas que observou. Com seu avô, fez várias visitas a escolas e pessoas pobres, onde pode observar as desigualdades sociais e os sofrimentos existentes naquela região, ampliando seu sentimento de piedade.
Pestalozzi foi um grande exemplo de doação e generosidade. Tinha uma grande preocupação com as pessoas e seu objetivo de vida era ajudar a todos. Sua inspiração para a educação era baseada nas obras de Rousseau e suas escolas eram inspiradas no ambiente familiar, com o objetivo de proporcionar segurança e afeto aos alunos. Defendia a disciplina paternal dentro da escola, fato interessante, pois não reprime e ao mesmo tempo oportuniza a formação moral e religiosa do ser humano, levando este a educar-se naturalmente.
As condições escolares na época eram precárias. Os prédios eram sujos e escuros, os métodos de ensino eram apenas de memorização e os professores não possuíam qualquer qualificação profissional, ou seja, qualquer pessoa poderia assumir a responsabilidade de cuidar de um grupo de alunos. As pessoas também não tinham estímulo para estudar, mostrando um pouco de resistência. Atualmente, muitas das escolas brasileiras possuem bons livros, boa estrutura e dos professores é exigido pelo menos uma formação inicial na área específica da docência. Mas acredito que ainda tem muito a melhorar em relação aos métodos de ensino, que na maioria das vezes ainda é restrito a faixa de memorização, ao invés de construção. Pestalozzi tinha como objetivo mudar a situação precária do povo, ou seja, fazer uma reforma social. Ele acreditava que a única maneira para se fazer isso era com a educação dos indivíduos. Dessa forma, ele estabeleceu alguns princípios para que as pessoas pudessem obter seus direitos políticos, ter uma vida feliz e virtuosa, educando-se moralmente. O povo daquela época vivia em uma situação de miséria e pobreza, mas não era isto que inquietava Pestalozzi, e, sim, a inércia das pessoas, a falta de dignidade e também suas frustações e desesperos.
Considero muito importante, os princípios estabelecidos por Pestalozzi. O primeiro nos mostra que a evolução da sociedade depende da evolução de cada indivíduo. O segundo nos mostra que, para o individuo conquistar a elevação moral, ele deve respeitar-se, tornando-se auto-suficiente, e por fim, o terceiro, conclui que a educação é a grande oportunidade para o desenvolvimento do indivíduo. Percebo em Pestalozzi uma grande preocupação com a formação moral do homem, objetivando o progresso da humanidade e acho isto muito válido.
Para Pestalozzi, criança é um organismo que se desenvolve conforme leis definidas e ordenadas. Assim, o desenvolvimento orgânico é o processo natural de desenvolvimento do homem, sendo este, no âmbito mental, físico e moral, e, acontecem a partir da relação do homem com o meio ambiente, dos seus instintos e impulsos motores e das relações com outros seres humanos e com Deus, de forma harmoniosa. Para ele a cabeça, era o aspecto intelectual a ser desenvolvido, ou seja, a parte mental que registra todo tipo de impressão sensorial obtida. A mão, representa o aspecto físico, ou seja, os desejos e impulsos motores e o coração é o aspecto ético, ou seja, a formação moral do homem. Estes três aspectos, cada qual se desenvolve à sua maneira, mas funcionam juntos e por isto devem serem desenvolvidos também juntos, em harmonia. Pestalozzi afirma que isolar um destes aspectos, significa destruir o equilíbrio do homem e incapacitá-lo a viver uma vida normal, completa e civilizada.
Mas apesar da cabeça, mão e coração funcionarem juntos e seus respectivos aspectos ter de serem desenvolvidos juntos, Pestalozzi nos diz que eles não possuem a mesma importância. Dessa maneira, ele considera essencial que o homem venha a produzir conhecimento, realizar suas atividades construtivas e se desenvolver intelectualmente, mas acima de tudo e com prioridade deve se desenvolver moralmente. O aspecto ético é o mais importante e deve sempre unificar os outros aspectos junto de si.
Pestalozzi afirma ainda que a natureza equipou todos os seres com as faculdades necessárias para seu desenvolvimento. Neste caso, ninguém implanta conhecimento em ninguém, pois este já vem junto com o indivíduo desde seu nascimento. Assim, o professor, por exemplo, apenas orienta, vigia e auxilia um processo de desenvolvimento que deverá se dar naturalmente e por si só. A instrução é apenas um auxílio para que o curso do progresso seja natural e a sua maneira, o desenvolvimento intelectual se dá a partir da percepção sensorial. Este é um processo mental ativo e base para instrução humana. A instrução é a orientação desta percepção, ou seja, é o conhecimento adquirido à partir do abstrato e direcionado para o concreto.
Friedrich Wilhelm August Fröbel (1782 – 1852)
Friedrich Froebel nasceu na região sudeste da Alemanha, no ano de 1782, vindo a falecer no ano de 1852. Viveu parte de sua vida na época das grandes revoluções europeias, como a revolução industrial, francesa, Guerras Napoleônicas e as Revoluções de 1848. Neste período, também vivenciou as chamadas “contra revoluções”, onde a burguesia denominava-se revolucionária, quando lutava contra o feudalismo e contrarrevolucionária, quando lutava contra os camponeses. Foi um período marcado por muitas contradições, assim, surge uma problemática muito importante a ser considerada: A separação do público e o privado. Froebel propõe esta situação diferenciando os papeis entre homens e mulheres, onde o homem seria o público e a mulher seria o privado. Nesta concepção, o homem deveria cuidar das situações externas ao ambiente doméstico e a mulher seria a responsável pelo lar, cuidando da organização e desempenhando um papel central na educação das crianças pequenas.
Froebel era lento nos estudos e pouco realizou leituras sobre a educação. Construiu sua metodologia de trabalho com base nas suas experiências, ou seja, em suas práticas. Dessa maneira, ele se se educou na medida em que aprendeu fazendo. Para ele o homem aprende por si mesmo, a instrução e os recursos são pontos secundários neste processo, pois o ponto principal é o fazer de cada um. Froebel nos mostra que, na concepção de “aprender fazendo”, devem-se respeitar antes de tudo as características naturais da criança. Somente observando suas ações, seus talentos naturais, o professor poderia conhecer seu aluno e sua melhor forma de aprendizagem. Dessa maneira, poderia produzir atividades de acordo com as necessidades e pontos de interesse de cada um, oportunizando formas de interação e construção de conhecimento. Acho muito interessante esta teoria de Froebel, pois valoriza a experiência do aluno e traz a prática para dentro da sala de aula, diricionando para verdadeira construção de significados.
A obra de Froebel foi voltada para a construção dos jardins de infância. Ele defende que a infância é como um jardim, que é preciso cuidar do solo, irrigar corretamente, ter luz e sombra na quantidade certa. Para Froebel toda planta necessita de cuidados especiais para crescer com produtividade. Mas nem toda planta é igual, umas precisam de mais água, outras de menos. Algumas precisam de sol, outras de sombra. Dessa forma, cada planta necessita de seus cuidados individuais e o jardineiro deve conhecer cada espécie e saber do que ela precisa para se desenvolver. Froebel descreve a criança como uma planta e o professor como o jardineiro. Assim como as plantas, nem toda criança é igual, pois possuem necessidades, experiências e interesses diferentes. Logo o professor, como um bom jardineiro, deve conseguir identificar cada flor de seu jardim, compreendendo suas linguagens e suas especificidades. Deve compreender o processo de aprendizagem de cada uma e ensejar ações que oportunizem a construção de conhecimentos de forma prazerosa e produtiva.
Em minha opinião, Froebel descreve muito bem o processo de ensino aprendizagem, pois assim como as plantas, as crianças necessitam de cuidados diferentes. Acredito que o professor deve saber compreender seu aluno, com um olhar aberto e sensível, livre de rótulos e conceitos pré-definidos. Deve conhecer as potencialidades e dificuldades de cada um na sua individualidade, a fim de, elaborar um planejamento que venha a contemplar a aprendizagem. Segundo ele, a interiorização acontece quando a criança recebe os conhecimentos e os guarda para demonstrá-los e descobri-los na exteriorização. Por exemplo, a criança conhece as regras de um jogo e reflete sobre isso. Após, quando joga, exterioriza o conhecimento adquirido no momento em que aplica as regras durante a prática do jogo. Assim, podemos concluir que o conhecimento é um processo interior.
Froebel valoriza a mulher como uma mãe/esposa zelosa que não serve para o trabalho na vida pública, pois não possuíam condições físicas para tanto. O ambiente doméstico lhe seria seguro e natural para desenvolver suas atividades. A mulher seria graciosa e dócil, descrita no texto, como um dia de domingo para o homem. Além de seu uma grande educadora para os filhos.
Não discordo de Froebel justificando pela época em que construí suas teorias. Era um período turbulento, de guerras e revoluções, onde o homem, muitas vezes ia para os campos de combate, lutar pelos objetivos da batalha. Na maioria das vezes, o trabalho remunerado era o serviço braçal e pesado, diferentes das diversas opções de trabalho que existem atualmente. Assim, a mulher ainda era considerada fisicamente frágil e incapaz de realizar tais funções. Claro que nos dias atuais esta concepção de privado e público já não existem mais, pois as tecnologias vem avançando constantemente, máquinas já fazem o serviço braçal e a tanto o homem como a mulher possuem iguais condições para realizar qualquer serviço público. Ele descreve que a família é tão importante quanto o jardim de infância. Lina, a menina que ele cita como exemplo de sua teoria, em suas obras, é um exemplo de criança, pois é integrada em um lar religioso, harmonioso e repleto de amor e segurança. Dentro deste princípio, os pais devem ter a consciência de sua importância no processo de desenvolvimento da criança, para que quando a criança seja um adulto possa se relacionar com Deus da mesma forma com que se relacionou com seus pais. A mãe seria a responsável por criar este espírito cristão dentro do lar, educando suas crianças.
Froebel ainda nos mostra que a mulher seria o único ser a conseguir educar uma criança seguindo os princípios da emoção, respeitando o desenvolvimento natural da criança. Deve sempre estimular a curiosidade, para que ela por si só, descubra e construa conceitos. Ele também nos mostra que a escola tradicional de seu tempo nunca teria condições de construir conhecimento de forma integrada e significativa. Segundo ele, as escolas tradicionais eram fragmentadas e sem vida, onde o exterior e interior estariam em trabalho oposto.
As considerações de Froebel são importantes e contribuem muito para a construção de conhecimento, mas alguns pontos críticos devem ser considerados. Por exemplo, ele valoriza a família, considerando-a santificada, feminina e infantil, distanciando da vida pública. Assim, coloca a mulher e as crianças fora da vida social, onde apenas o homem poderia ser adulto e enfrentar as situações exteriores ao ambiente doméstico. Ele considerava o público como algo pesado e perigoso, onde a família deveria ser poupada e guardada. Seu discurso educacional é um avanço no sentido que oportuniza a construção do conhecimento pela prática e também quando orienta o educador a conhecer seus alunos em todos os âmbitos, mas um retrocesso no momento em que ignora os conhecimentos científicos. Em seus princípios educacionais, considera o educador como um jardineiro e a criança como uma planta. Neste caso, o educador deve cuidar para que a criança cresça e desenvolva suas potencialidades, assim como o jardineiro cuida de cada flor para que ela se desenvolva dentro do grande jardim, percebendo no todo, que cada uma é diferente da outra, necessitando assim, de cuidados diferentes também.
O que considero fundamental nas teorias de Froebel é o "aprender fazendo". Froebel teve sua formação através da prática, logo, nos traz orientações sobre esta metodologia. O aprender fazendo vem de encontro com a nossa concepção de aprendizagem, muito atual, onde o professor deve valorizar as experiências dos alunos e construir conhecimento com a prática. Outro ponto que acho fundamental, é a comparação da criança com uma planta, quando Froebel orienta o professor a conhecer seu aluno e reconhecer que em uma turma, nem todos os alunos são iguais, pois possuem potencialidades e dificuldades diferenciadas, necessitando assim, de um olhar diferenciado também.
Celestin Freinet (1896 – 1966)
Freinet nasceu no Sul da França no ano de 1856. Teve uma vida simples, sendo na infância pastor de rebanhos, iniciando posteriormente seus estudos na escola normal. Em 1914, teve que abandonar os estudos para ingressar no combate durante a guerra que se iniciava. Sofreu ações de gases tóxicos, que vieram a comprometer seus pulmões. Mas mesmo assim, Freinet não deixou de lutar pelo seu objetivo que era ser professor primário. Dessa maneira, em 1920 iniciou seu trabalho como professor. Como lhe faltava experiência pedagógica, pois não conseguiu terminar o Curso normal devido à guerra, Freinet recomeçou seu estudo sozinho, anotando tudo que observava, procurando compreender as crianças e realizando a leitura de diversos autores. Logo prestou um exame, que o habilitou na função de professor.
Através das observações e anotações realizadas constantemente sobre as crianças, Freinet pode conhecer mais sobre a personalidade de cada uma e assim, perceber que os livros de classe traziam desinteresse total durante as aulas. Dessa maneira, começou a questionar as normas e formas e rígidas da escola, percebendo que o interesse das crianças estava muito além das paredes da sala. Decidiu então, levar os alunos para fora da sala de aula, ou seja, para um lugar onde eles pudessem se sentir felizes e motivados, surgindo assim, a ideia da aula passeio.
Diariamente Freinet, organizava sua aula passeio, caminhava com as crianças nas ruas do vilarejo, observando os trabalhadores de diversas áreas, as ações da natureza, a vida dos animais, os diferentes sons, entre outros aspectos que viessem a aguçar a curiosidade e trazer questionamentos e comparações. Quando retornava para sala de aula, tinha uma aula longe das características tradicionais. Os alunos já não estavam separados do professor e o tinham como um amigo. Os conceitos que deveriam serem aprendidos pelo currículo, eram vistos de forma prazerosa e totalmente relacionada ao que viram durante o passeio.
Freinet conseguiu uma forma de aproximar os alunos e si e trazer para eles a aprendizagem significativa e interessante. A ideia da aula passeio trouxe para sua aula a oportunidade de levantar registros, fazer comparações e discutir sobre os fatos mais marcantes. Acho muito valido esta perspectiva pedagógica, pois oportuniza a expressão espontânea da criança, sendo esta oral ou escrita e a prática solidária. Também valoriza as experiências vivenciadas e relaciona a realidade com o conteúdo proposto. Para Freinet a atividade é o que orienta a prática educativa, sendo o objetivo final da educação, formar cidadãos para o trabalho livre e criativo. Nesta perspectiva a criança deveria ter todos dos seus gestos trabalhados e valorizados, fazendo com que ela construa experiências e exercite suas principais habilidades, tanto motoras como cognitivas.
Através das aulas passeio, Freinet tinha a oportunidade de levar seus alunos para os mais diferentes setores de trabalho e situações do cotidiano do vilarejo. Lá poderiam observar, experimentar e questionar. Na volta para sala de aula, a teoria seria sobre todos os fatos vistos durante o passeio. Assim, diversos conteúdos escolares iriam se identificar com a realidade presente na vida diária dos alunos. Dessa maneira, as crianças não estavam aprendendo somente conceitos desconexos e desinteressantes, ao contrário, estariam aprendendo conceitos presentes em sua própria vida, dentro de seu próprio entorno e que fazem ou um dia poderiam fazer, parte da sua rotina de trabalho. Logo, Freinet nos mostra que a vida entra na escola, quando os assuntos que estão do lado de fora, passam a ultrapassar as barreiras da sala de aula, fazendo parte do conteúdo escolar. Neste âmbito, não existe distância entre a vida real e os conteúdos escolares. Freinet, ensina as crianças a lerem o mundo e as prepara melhor para a vida.
A cada passeio, as crianças faziam o registro de tudo que viram, em forma de texto. Tais registros eram lidos durante a aula e arquivados posteriormente. Freinet não se conformava com isso, pois aqueles textos tão vivos e interessantes não eram lidos por mais ninguém. Dessa maneira, surge a ideia de imprimir os textos para que outras pessoas também pudessem ler, criando assim, a imprensa escolar. As crianças adoraram o fato de poder divulgar suas emoções através de textos e cada vez ficaram mias motivadas. As técnicas de Freinet são de grande valor para a prática docente. O fato de divulgar o trabalho da criança, incentiva para a criatividade e para o aperfeiçoamento, além de motivá-la, deixando sua autoestima elevada. Acho muito interessante a pedagogia defendida por Freinet, pois direciona para a constante preocupação com o aprendizado e motivação dos seus alunos, procurando soluções e estratégias que pudessem deixar as aulas significativas e estimulantes.
A livre expressão que era defendida por Freinet, consistia no ato das crianças terem a oportunidade de se manifestar livremente, expondo sua opinião com autonomia e criticidade, sem perceber o professor como um ser autoritário e superior a si, ao contrário, percebendo-o como um familiar um amigo que está inserido no processo de educação para contribuir para sua aprendizagem, valorizando as diferenças e os gestos de cada um. Ainda, Freinet oportunizava a livre expressão, quando solicitava a escrita do texto livre, a confecção do desenho livre e a impressão dos mesmos. De acordo com seus estudos, Freinet mostrava que a com a livre expressão, a criança poderia trabalhar os erros gramaticais, aprender a ter responsabilidade e trabalhar em grupo, desenvolvendo a sentimento de solidariedade e cooperação. Ele também quis ampliar a divulgação do material criado por seus alunos. Já não se conformava que somente familiares e outros colegas lessem o material criado. Ele queria mais, queria que os textos fossem divulgados em outros ambientes também. Assim surge a ideia de fazer um intercâmbio com outra escola. Dessa maneira, a outra instituição também adotaria o método de Freinet, construindo textos livres, jornais e imprimindo para fazer trocas. Logo se estabeleceu uma conexão por correspondências, onde os alunos da escola de Freinet trocavam experiências e culturas diferentes através de textos que recebiam e que também enviavam. Além de textos, trocavam fotos e presentes. Em minha opinião este método funcionaria muito bem hoje. Cabe dizer também, que não somente este método, mas todos os métodos de Freinet vistos até o momento são muito validos e pertinentes para o trabalho na sala de aula de qualquer época. O intercâmbio acontece muito atualmente, onde alunos viajam e conhecem novas culturas e vivencias. O intercâmbio por correspondência seria uma ótima sugestão de atividade, pois além de desenvolver vários aspectos da escrita, estabelecia criatividade, emoção e motivação para a sala de aula. Acredito que solucionaria muitos dos problemas que professores vem enfrentando no momento em que tentam estimular seus alunos e se deparam com o fracasso. Refletindo ainda sobre motivação escolar, penso que, se muitos dos professores pensassem que nem Freinet, procurando constantemente soluções para os desafios encarados no trabalho com os alunos, trazendo estratégias que pudessem contribuir para a aprendizagem significativa e interessante, muito dos problemas de indisciplina e aprendizagem seriam diminuídos em nossa atualidade.
No ano de 1935 Freinet apresentou em um Congresso suas ideias frente a infância. Após a aprovação, ele iniciou a execução do projeto, contando com muitos aliados. Depois de seu lançamento surgiram muitas concepções em defesa da criança, bem como novos projetos com o mesmo propósito. Assim, a pedagogia popular de Freinet estava representando o fortalecimento necessário que possibilitaria o ingresso de novos adeptos. Dessa maneira, muitas crianças e educadores poderiam se beneficiar com os métodos de Freinet para com o desenvolvimento na infância. Observo que a pedagogia popular de Freinet é fundamental para ações na sala de aula. Ela nos faz refletir sobre a importância do aprender fazendo, da valorização dos gestos e da experiência da criança, sempre com respeito e principalmente afeto. Logo, com a emancipação das suas teorias, a livre expressão das crianças pode ser valorizada nos mais diferentes lugares, bem como, mas educadores tiveram a oportunidade de repensar a sua prática.
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