ESTÁGIO SUPERVISIONADO DE PRÁTICA DOCENTE I
- Cristiane dos Santos Damasceno
- 29 de jun. de 2016
- 19 min de leitura
O artigo tem como intenção relatar o trabalho realizado durante o Estágio Supervisionado de Prática Docente do CLPD da UFPEL. O estágio foi realizado na quarta série do ensino fundamental na Escola Municipal Artur Dorneles, ele é extremamente importante para a formação acadêmica do profissional a fim de qualificar sua formação para o mercado de trabalho.
Visando avaliar os questionamentos pertinentes e assim reunir teoria e prática, o Estágio Supervisionado permitiu desenvolver com os elementos da pesquisa, atividades que auxiliaram para a construção do conhecimento. Nesta etapa foi fundamental o conhecimento dos teóricos: Madalena Freire, Celso Vasconcelos, Emília Ferreiro, Fernando Luckesi, Sandra Corazza, Jussara Hoffmann, José Carlos Libâneo.
O texto será uma análise da turma como um todo sendo dividido em cinco partes: a primeira será a Contextualização, onde serão apresentados todos os dados importantes da escola, seu entorno e a relação entre os sujeitos; a segunda parte, Etapa de Ensino, relatará os elementos específicos do estágio, entre eles, a avaliação, o currículo, os espaços, os tempos, os materiais, o planejamento, as rotinas, o papel do professor na formação das crianças; a terceira etapa, Processo de Ensino, constará a execução do planejamento, os ajustes que foram necessários, as descobertas possíveis a partir da relação direta com os alunos; a quarta etapa, Aprendizagem dos Alunos, traz o relato, de como as especificidades dos alunos foram sendo percebidas e contempladas; e na quinta etapa, Trabalho Docente, apresenta uma síntese dos elementos que são necessários ao professor, a fim de garantir que o processo de ensino aprendizagem aconteça.
A realização do Estágio Supervisionado é fundamental para os todos acadêmicos, nesta etapa convive-se com a realidade escolar, com a relação entre os sujeitos com novas descobertas e respeito às diferenças. Esse período serve como um aprendizado partindo dos referenciais teóricos que estudamos durante o CLPD colocando em prática em sala de aula. É na prática docente que se reconhece as potencialidades de um professor sendo um facilitador da construção da aprendizagem.
A Escola Municipal de Ensino Fundamental Artur Dornelles na rua Santo Antônio n°56, bairro Santo Antônio, bairro de classe média baixa, localizado na região periférica do município de Charqueadas. Situado às margens do rio Jacuí, tem uma localização privilegiada em termos ambientais. Diversas iniciativas ambientais são desenvolvidas pela escola, intervindo na mata ciliar do rio com a plantação de árvores nativas, na limpeza de suas margens com o “Projeto Rio Jacuí toma banho” o que a torna diferenciada no aspecto ambiental pela proximidade de um dos maiores mananciais hídricos do Rio Grande do Sul e pela simples possibilidade de realizar atividades ambientais que envolvam a preservação da água, das matas e dos rios. Este projeto foi possível, pois a GKN, empresa parceira financiou equipamento de proteção as crianças como: luvas, aventais, bonés, sacos para recolhimento do lixo.
O bairro faz limite com duas empresas de grande porte, GKN e GERDAU, grandes parceiras da escola, as quais desenvolvem projetos sociais que contemplam as necessidades dos alunos, um deles é projeto de leitura com a aquisição de novos livros. A Empresa GERDAU equipou a biblioteca da escola com um computador com leitor digital para os livros que foram catalogados por um funcionário da empresa e ganharam uma xérox para a escola.
“O Projeto Minha Escola Lê”, tem como objetivo promover o acesso à leitura aos alunos e suas famílias dando-lhes a oportunidade de experimentar e descobrir o prazer de ler um livro e o quanto este hábito pode ampliar seus horizontes, pois entenderá que a leitura gera conhecimento, o conhecimento gera o pensamento e este gera o questionamento tornando-se um cidadão criador de ideias propensas a mudar a realidade a sua volta.
Todas essas ações caracterizam a Escola Artur Dornelles como uma escola de bairro, inserida e preocupada com o que acontece a sua volta, respeitando os valores, a cultura e a condição de vida do seu povo, aproveitando as oportunidades para investir na educação e em melhorias dos espaços físicos da escola, conquistados através do prestígio que tem na área educacional.
A escola parceira trabalha com turmas de 1º ao 9º ano nos turnos da manhã e da tarde, distribuídos entre 10 salas num total aproximado de 189 alunos. A escola possui alunos especiais matriculados em turmas regulares, estes alunos são atendidos por uma psicóloga da Prefeitura de Charqueadas e na sala de recursos por uma professora pedagoga com especialização em educação especial.
Os alunos da escola, em sua maioria, pertencem a classe média baixa, são moradores do próprio bairro onde a escola está inserida, com algumas exceções, vindos dos bairrosColônia e Centro. O número médio de criança por turma oscila entre 9 a 17 alunos por turma. É uma escola da rede municipal com a missão de garantir a formação de cidadãos plenos num ambiente de conhecimento onde as parcerias com a comunidade e o respeito mútuo e dedicação ao trabalho garantam a realização e sucesso individual dos seus alunos.
A população na sua maioria sobrevive do serviço público, da prestação de serviços, do comércio e do emprego nas indústrias GKN, GERDAU e TRACKTEBEL e outras empresas que estão próximas ao bairro Santo Antônio.
O corpo docente da escola está composto de professores com diferentes formações acadêmicas, mas todos são efetivos, a escola preencheu o seu quadro de professores no último concurso não restando nenhum contratado. A equipe diretiva é composta pela diretora que possui curso de Pedagogia, vice-diretoras, licenciadas em letras, supervisora e coordenadora pedagógica possuem Curso de Pedagogia.
As crianças brincam no pátio escolar e fazem educação física na quadra que fica ao lado da escola.Na parte central da escola onde o recreio ocorre possui um palco para as apresentações artísticas dos alunos. As atividades apresentadas são: música, dança, teatro, jograis, desfiles, parlendas, exposição de pinturas feitas pelos alunos tudo fica neste local. A escola dispõe de biblioteca, de sala de informática com 20 notebooks, sala de vídeo com um projetor multimídia, possui internet mantida pela Prefeitura. Possui um acervo de jogos que fazem parte de um projeto pioneiro denominado Mente Inovadora da escola junto a uma empresa Mind Lab. Os jogos possuem várias fases desenvolvendo o processo cognitivo da criança em diversas áreas de ensino atingindo todas as idades da escola.
A escola Artur Dornelles procura ter um diálogo franco com as pessoas envolvidas no processo ensino-aprendizagem (alunos, professores, pais e funcionários), contempladas na proposta política pedagógica voltada para o desenvolvimento de um trabalho participativo, democrático e estimulador, de uma formação focada na formação reflexiva dos educandos. A direção procura ter a comunidade por perto auxiliando em diversos projetos: como ajardinamento da escola, oficinas de música, de fotografia, de dança e atividades artísticas. Além de ensinar, a escola preocupa-se em formar um cidadão, dando aos alunos uma visão mais ampla de mundo, de que eles podem ir além dos limites do bairro Santo Antônio. Os pais,nas reuniões realizadas pela escola expõem seus posicionamentos, fazem sugestões e participam das atividades junto com seus filhos, percebe-se que os filhos cobram a presença dos pais e ficam chateados quando eles não comparecem.
Durante o Estágio Supervisionado foi constante a vinda das mães perguntando como estão os filhos, querendo saber do rendimento escolar ou se a professora estava precisando de algum material. Os pais possuem uma relação muito boa com a escola e com os professores.
A turma do 4º ano em que estagiei demonstrou ser bastante motivada em participar e realizar as atividades propostas. Ficavammuito curiosos cada vez que eu trabalhava uma tarefa nova, então, era bombardeada de questionamentos reação essa que gostava muito, pois criavaa possibilidade de troca de conhecimentos e aprendizagem.
Penso que as atividades foram bem produtivas, pois constateiavanços positivos e significativos, inclusive com os dois alunos Portadores de Necessidades Especiais. Durante o período de estágio foi possível observar que o aluno F avançava no seu processo de alfabetização. Percebi isto no contato mais direto com os alunos, olhando os cadernos, ouvindo e respondendo seus questionamentos e os auxiliando a vencer suas dificuldades em cálculos.
Então, em parceria com eles procurei observar tais dificuldades e prepará-los para que pudessem elaborar o conhecimento e, assim, trabalhei procurando sempre incentivá-los respeitando o ritmo próprio de cada um.
Um destaque positivo na turma é o espírito de cooperativismo, onde um procura ajudar o outro. Quando uma criança acaba a tarefa antes dos demais, pergunta a professora “Posso ajudar fulano? ”, procuram sempre auxiliar o colega com mais dificuldade.
Procurei sempre proporcionar oportunidades para que a turma pudesse desenvolver suas potencialidades visando a construção do conhecimento, a formação de hábitos, atitudes aproveitando situações diversas, formulando hipóteses e soluções em conjunto.
A escola é um espaço de ensino-aprendizagem,para tanto, criar possibilidades para que os alunos se apropriem de diferentes áreas do conhecimento é primordial. Para tanto, existe dentro da estrutura educacional do país uma linha de ação que conduz a educação básica nacional.
As Diretrizes Curriculares Nacionais da Educação Básica em seu artigo 23 que tratam, especificamente do Ensino Fundamental e a importância desta etapa da Educação Básica como embasamento sólido para a construção da educação das crianças e jovens brasileiros.
Conforme as Diretrizes Nacionais da Educação Básica:
Art. 23. O Ensino Fundamental com 9 (nove) anos de duração, a matrícula é obrigatória para as crianças a partir dos 6(seis) anos de idade, tem duas fases sequentes com características próprias, chamadas de anos iniciais, com 5 (cinco) anos de idade de duração, em regra para estudantes de 6 (seis) a10 (dez) anos de idade; e anos finais, com 4(quatro) anos de duração, para os 11(onze) a 14(quatorze) anos. [...] acolher significa também cuidar e educar, como forma de garantir a aprendizagem dos conteúdos curriculares, para que o estudante desenvolva interesses e sensibilidades que lhe permitam usufruir dos bens culturais disponíveis na comunidade, na sua cidade ou na sociedade em geral, e que lhe possibilitem ainda sentir-se como produtor valorizado desses bens (2013, p. 70)
Portanto, a diferenciação entre as demais etapas da Educação Básica se dá justamente pelo acolhimento, pela entrada do aluno no sistema de ensino de uma forma humanizada, baseada na afetividade e na interação pessoal entre professor/ aluno para que realmente a aprendizagem aconteça.
No artigo 24 das Diretrizes Curriculares Nacionais para a Educação Básica, também são definidos os objetivos para esta etapa, assim descritos:
I – desenvolvimento da capacidade de aprender, tendo como meios básicos o pleno domínio da leitura, da escrita e do cálculo;
II – foco central na alfabetização, ao longo dos 3 (três) primeiros anos;
III – compreensão do ambiente natural e social, do sistema político, da economia, da tecnologia, das artes, da cultura e dos valores em que se fundamenta a sociedade;
IV – o desenvolvimento da capacidade de aprendizagem, tendo em vista a aquisição de conhecimentos e habilidades e a formação de atitudes e valores;
V – fortalecimento dos vínculos de família, dos laços de solidariedade humana e de respeito recíproco em que se assenta a vida social. (2013, p.70).
Observa-se a preocupação com a leitura, a escrita e o cálculo, além dos aspectos ambientais, culturais, das artes e dos valores, bem como, o desenvolvimento da aprendizagem e do fortalecimento dos vínculos com a família e a sociedade. Mesmo que a função da escola seja ensinar, não pode estar desvinculada da comunidade em que vive da sua problemática e da necessidade de intervir e transformar estas questões, como destaca o texto das Diretrizes Curriculares Nacionais:
Nos anos iniciais do Ensino Fundamental, a criança desenvolve a capacidade de representação, indispensável para a aprendizagem da leitura, dos conceitos matemáticos básicos e para a compreensão da realidade que a cerca, conhecimentos que se postulam para esse período da escolarização. (2013, p.110).
A avaliação é uma etapa importante do processo ensino-aprendizagem devendo ser realizada pelo professor e pela escola assumindo um caráter processual, formativo e participativo, ser contínua, cumulativa e diagnóstica, conforme determina as Diretrizes Curriculares Nacionais.
Cipriano Luckesi afirma que:
[...] em qualquer instância avaliar será sempre diagnosticar a realidade, qualificando-a, tendo em vista subsidiar decisões para a obtenção do melhor e mais adequado resultado possível de uma determinada ação. (LUCKESI, 2006).
A avaliação é algo que não acaba em si mesmo, a partir dela tem-se um diagnóstico do nível de compreensão da turma a respeito de determinado conteúdo, se realmente existe a necessidade de retomar a atividade ou modificar a metodologia, introduzindo novos recursos e diferentes estratégias a fim de que os alunos avancemseus processos de aprendizagens, construindo e sistematizando seus saberes.
De acordo com Hoffmann (1995), a autoraafirma que:
A avaliação, enquanto relação dialógica, vai conceber o conhecimento como apropriação do saber pelo aluno e pelo professor, como ação-reflexão-ação que se passa na sala de aula em direção a um saber aprimorado, enriquecido, carregados de significados, de compreensão.(HOFFMANN, 1995, p.148)
Dessa relação entre professor/aluno, aprender/ensinar, ação-reflexão-ação se constrói o conhecimento de forma compartilhada, num processo de crescimento mútuo onde cada indivíduo colabora para que o resultado final seja aprender de verdade.
Tanto a avaliação quanto o currículo são importantes no processo de construção do conhecimento, assim entendido como:
[...] conjunto de conhecimentos que a escola seleciona e transforma, no sentido de torná-los possíveis de serem ensinados, ao mesmo tempo em que servem de elementos para a formação ética, estética e política do aluno (DIRETRIZES CURRICULARES NACIONAIS DA EDUCAÇÃO BÁSICA, 2013, p.112).
O currículo deve representar o conhecimento sistematizado necessário a formação básica dos alunos da educação básica, evidenciando as atividades relacionadas à leitura, a escrita e as habilidades de raciocínio lógico, respeitando obviamente as características locais, os costumes e modo de vida da população e o entorno daquele lugar, ou seja, “um currículo é o que dizemos e fazemos... com ele, por ele, nele. ” (CORAZZA, 2001, p. 14).
O papel do professor no contexto da educação básica deve estar voltado para a mediação, a orientação e o incentivo de práticas e metodologias que estimulem a pesquisa e a descoberta do conhecimento. O planejamento do professor tem que estar de acordo com o currículo escolar, associado a critérios justos de avaliação, levando sempre em conta a aprendizagem dos alunos.
A Escola Artur Dornelles, representada por pais, alunos, professores e funcionários que compõem a sua comunidade escolar, constitui-se num grupo unido e integrado que respeita as individualidades e que acredita nas mudanças através da participação.
Busca, por meio das relações estabelecidas, a criação de um ambiente prazeroso que favoreça o crescimento individual, tanto dos alunos, quanto dos professores, que se caracterizam por serem profissionais ansiosos por mudanças que nos levem a uma realidade na educação.
Durante o Estágio de Prática Docente I a escola promoveu a formação para seus docentes voltados para qualificação e planejamento, observei empenho, colaboração e dedicação nos estudos por parte de todos os professores.
A escola possui um material didático muito bom, busquei utilizar todos recursos disponíveis para a aprendizagem de meus alunos. Os professores são incentivados para usar os recursos, jogos, nets, materiais multimídias, livros de literatura infantil, mapas. Fui convidada a conhecer pela professora antes da prática docente a conhecer todos os recursos de diversas áreas do conhecimento que poderiam compor o meu planejamento e aprendizagem dos alunos.
Anualmente, a escola realiza um grande seminário de integração de planejamento, no qual professores da escola realizam atividades pedagógicas e recreativas, visando entrosamento entre as disciplinas, professores, funcionários, comunidade e alunos da escola.
A escola como um todo acredita na educação como fator determinante para a transformação da sociedade e procura, cada vez mais, aperfeiçoamento e formação constante, visando parcerias Escola/ Comunidade e, consequentemente, melhores relacionamentos em todos os sentidos e uma aprendizagem mais efetiva.
O processo de ensino é a etapa fundamental em que o aluno constrói seus conhecimentos teóricos, desenvolvendo objetivos, conteúdos, métodos como forma de organização de ensino.
A prática docente se constitui de compromisso social e da interação entre professor e aluno, oferecendo meios, condições que o possibilitem ir de encontro ao conhecimento. Para isso é importante uma relação de troca, de planejamento com objetivos claros, de estímulos a conhecer novos saberes, orientando os alunos para as disciplinas de estudo explicando qual o objetivo da aula, utilidade do conteúdo a ser trabalhado na vida diária. Esta conexão contribui para que, ambos, tanto o professor quanto aluno possam avaliar o processo e partir em busca de novos conhecimentos e descobertas.
Segundo a autora Jussara Hoffman,“a avaliação mediadora se desenvolve em beneficio ao educando e dá-se fundamentalmente pela proximidade entre quem educa e quem é educado”. (2000)
No processo de ensino o professor é o mediador possibilitando ao aluno adquirir novas habilidades e através da interação desenvolve suas potencialidades. A avaliação mediadora nos permite refletir o tempo de aprendizagem de cada aluno nas práticas pedagógicas que utilizamos e observar seus avanços, suas dificuldades a forma de aprender e o ritmo próprio de cada um.
O critério essencial e necessário para a avaliação mediadora é que o professor conheça seu aluno, conheça sua realidade, compreenda sua cultura, seu modo de falar, e pensar através de suas observações.
O professor tem a responsabilidade de conhecer seu aluno, para através de uma prática reflexiva compreender e identificar quais ações deverão ser tomadas para promover a aprendizagem possibilitando aos alunos momentos significativos de construção do conhecimento.
O trabalho de conhecimento da turma parceira começou bem antes das horas destinadas a observação. Conheci algumas crianças em 2014, pois pretendia fazer o estágio no 4º ano. Na pesquisa percebi o quanto eram ativos, participativos, questionadores como eram motivados pelos seus professores a opinar nas discussões construindo novos conhecimentos. E foi assim em toda minha prática docente, penso que foi importante conhecer meu aluno para planejar. Dessa forma o meu planejamento foi sempre procurando resgatar os conhecimentos prévios e as experiências que meus alunos tinham em relação a atividade que estava propondo. Procurei sempre trabalhar de forma a estimulá-los para o saber, procurando suprir suas dificuldades ao longo do processo com atividades variadas e de reforços organizando de forma coerente as atividades, respeitando o ritmo próprio de cada aluno.
O meu Planejamento de Ensino teve como objetivo primeiramente ser coerente com a pesquisa realizada na escola e em seu entorno procurando proporcionar nas ações educativas trabalhadas, entendimento de mundo e crescimento como sujeitos pertencentes a sociedade. Na prática em sala de aula foram feitos vários momentos de avaliação que permitiram redirecionar algumas atividades, retomei conteúdos e juntos fizemos ajustes para que a aprendizagem realmente pudesse ocorrer.
A aprendizagem é um processo contínuo, que nos permiti reorganizar e propor ao aluno um planejamento diferenciado conforme o nível de cada um.
Nesta prática planejei de forma diferente os conteúdos, pois tinha alunos PNEs e reorganizei algumas atividades para alunos com dificuldades em leitura e cálculos, de acordo com o nível cognitivo da turma, respeitando suas particularidades, seus ritmos próprios e desenvolvendo suas potencialidades.
Entendo que o planejamento deva ser flexível para possibilitar condições a todos os alunos de se apropriarem do conhecimento.Penso que o planejamento pedagógico tem como finalidade a organização de nossas ações revelando a intenção para garantir que a prática educativa seja eficiente e reflexiva.Vasconcellos aponta um ponto que marca muito a vida do professor que é
Planejar é antecipar mentalmente uma ação ou um conjunto de ações a ser realizadas e agir de acordo com o previsto. Planejar não é, pois, apenas algo que se faz antes de agir, mas é também agir em função daquilo que se pensa. (VASCONCELLOS, 2000, p.79)
Minha intencionalidade pedagógica, primeiramente, foi colocar sempre meu aluno como centro do processo de ensino-aprendizagem, permitindo-me avaliar minha prática, elaborar e reelaborar meu planejamento, além de mediar o conhecimento, promovendo o avanço dos alunos no processo educativo. Em minha prática docente trabalhei os conteúdos selecionados pela professora titular, procurei sempre chegar uns cinco minutos antes de dar o sinal de entrada e revisar a sala. Quando usava recurso audiovisual verificava antes se estava tudo certo, procurava expor o que iria ser trabalhado no dia, vincular o objetivo da aula com o cotidiano e ouvir o que eles já sabiam e tinham para complementar o conhecimento.
Os conteúdos estavam de acordo com os níveis dos alunos, sempre desenvolvi com clareza procurando utilizar vários recursos didáticos como exemplo na matemática, o material dourado, diferentes jogos, ábaco. Percebi que a turma apresentava algumas dificuldades nas atividades de raciocínio lógico, então fiz várias atividades com bingos, boliche envolvendo as quatro operações, material dourado para cada um, o ábaco e material concreto para contagem. Sempre avaliando e observando o que poderia contribuir para o conhecimento, retomando e dialogando com o grupo.
Utilizei bastante para que eles compreendessem o processo de multiplicação, foi a escala de cuisinaire, recurso este que as crianças gostaram muito. Aprenderam a multiplicação sem decorebas o que foi bastante importante, este recurso a escola tem e foi de grande importância, a professora titular se surpreendeu com a aprendizagem rápida dos alunos.
Ao término dos conteúdos realizava um diálogo, momento de troca, esclarecimento de dúvidas, reflexões onde estimulava os alunos a se expressarem, para que eu pudesse avaliar suas falas e também, refletir sobre o meu planejamento e as estratégias utilizadas.
Não tive problemas de indisciplina com a turma, sempre quando vou trabalhar com uma turma nova, procuro estabelecer algumas regras que são: estimular respeito mútuo, cooperação entre todos, a afetividade e a boa convivência em grupo e atividades diferenciadas sugeridas pelos alunos a partir de uma roda de conversa com a professora.
A escola e a sala de aula são espaços de conhecimento e entendo que a autoridade não é representada por gritos e ameaças, mas sim pelo domínio que tenho sobre o conteúdo apresentado a meu aluno, o respeito e o afeto que tenho por ele. Acredito que o tratamento verbal é fundamental em minha ação pedagógica.
Segundo Madalena Freire:
O educador lida com a arte de educar. O instrumento de sua arte é a pedagogia. Ciência da educação, do ensinar. É no seu ensinar que se dá seu aprendizado de artista. Toda pedagogia sedimenta-se num método. Maneira de ordenar, organizar com disciplina, a ação pedagógica, segundo certos pressupostos teóricos. Toda pedagogia está sempre engajada a uma concepção de sociedade, política. É neste sentido que, nesta concepção de educação, este educador faz arte, ciência e política. Faz política, quando alicerça seu fazer pedagógico a favor ou contra uma classe social determinada. Faz ciência, quando apoiado no método de investigação científica, estrutura sua ação pedagógica. Faz arte, porque cotidianamente enfrenta-se com o processo de criação na sua prática educativa, em que, no dia a dia, lida com o imaginário e o inusitado. A ação criadora envolve o estruturar, dá forma significativa ao conhecimento. Toda ação criadora consiste em transpor certas possibilidades latentes para o campo do possível, do real. (FREIRE, M., 1995, p.36).
A aprendizagem dos alunos foi sendo percebida na prática docente. Já conhecia alguns alunos dos quais trabalhei no estágio, durante a pesquisa realizada na escola os Portadores de Necessidades Especiais, Aluno C e Aluno F com ritmos próprios e estágios diferentes de aprendizagem. O Aluno Ctem problemas na expressão verbal, faz tratamento com fonoaudióloga, escreve como fala, mas é um aluno maravilhoso para se trabalhar, é afetuoso e está sempre disposto a fazer suas tarefas. Gosta muito de matemática e atividades com jogos onde percebi que participa muito bem.
O Aluno F está em processo de construção da palavra realiza suas atividades um pouco mais lentas. É um aluno muito carinhoso com colegas e professores, gosta de colorir suas atividades, mas possui bastantes dificuldades em construir seu conhecimento, tudo é muito lento.
Busquei que participassem e interagissem com os colegas em diversas situações como de jogos, bingos, leitura de histórias, etc. Procurei fazer atividades variadas de acordo com o nível de cada um. Proporcionei atividades de interação e materiais bem diversificados a fim de desenvolver criatividade imaginação dos alunos.
O aluno J evoluiu bastante no processo ensino-aprendizagem alfabetizando-se no final do quarto ano. Tem vontade para aprender, apesar de ser disperso e impaciente. Realiza as atividades propostas destacando-se nas que se referem ao raciocínio lógico-matemático, contudo tem alguma dificuldade na leitura e produção textual.
Segundo Emília Ferreiro,
A construção do conhecimento da leitura e da escrita tem uma lógica individual, embora aberta à interação social, na escola ou fora dela. No processo, a criança passa por etapas, com avanços e recuos, até se apossar do código linguístico e dominá-lo. O tempo necessário para o aluno transpor cada uma das etapas é muito variável. Duas das consequências mais importantes do construtivismo para a prática de sala de aula são respeitar a evolução de cada criança e compreender que um desempenho mais vagaroso não significa que ela seja menos inteligente ou dedicada do que as demais. Outra noção que se torna importante para o professor é que o aprendizado não é provocado pela escola, mas pela própria mente das crianças e, portanto, elas já chegam a seu primeiro dia de aula com uma bagagem de conhecimentos. (REVISTA NOVA ESCOLA, Edição Especial nº 19, 2008, p.125 - 126)
Os alunos do 4º ano apresentaram resultados bem positivos nas atividades realizadas. Cada aluno possui um ritmo próprio, uns acabam as tarefas antes e se propõem a cooperar com os demais colegas. Realizam muito bem tarefas em grupo, em duplas, gostam de leitura, histórias contadas, vídeos, teatros.Incentivei a colaboração entre eles a fim de que auxiliassem os colegas trocando experiências e construindo aprendizagens significativas para eles.
Para que o processo de ensino aprendizagem ocorra é necessário um trabalho em equipe com nossos alunos. Envolver, dialogar, problematizar os conhecimentos é fundamental para nossa prática docente. É preciso desenvolver e conscientizar o ser, disciplinar com amor, afetividade, respeito mútuo transformando nossa sala de aula em um ambiente alegre, onde nossos alunos tenham vontade de construir o seu conhecimento.
Na atualidade, observamos as transformações sociais e novas abordagens relacionadas com a educação de modo geral. Penso que é fundamental compreender melhor nossos alunos, pesquisá-lo, incluí-lo numa sociedade que exclui dar valor aos conhecimentos prévios que nosso aluno traz consigo. Acredito que se deve ir além do domínio do conteúdo a ser trabalhado, é preciso colocar nosso aluno em destaque, criando possibilidades para a construção do saber e desenvolvimento de suas potencialidades.
Acredito que seja, também, de fundamental importância a construção de limites no grupo, o conhecimento e o entendimento que causa diferentes comportamentos. Na prática docente o professor precisa articular os conhecimentos gerais e disciplinares viabilizando a aprendizagem de seus alunos. O professor precisa estar totalmente comprometido com a prática e o resultado final do trabalho sendo importante para a construção do sujeito. Pode-se ressaltar isso na visão de Libâneo, que diz:
O trabalho docente é parte integrante do processo educativo mais global pelo qual os membros da sociedade são preparados para a participação na vida social. A educação – ou seja, a prática educativa – é um fenômeno social e universal, sendo uma atividade humana necessária à existência e funcionamento de todas as sociedades. (LIBÂNEO, 1994, p. 17).
Em minha prática docente procurei compreender meus alunos, ajudá-los a construírem com independência o seu olhar próprio de mundo desenvolvendo a capacidade de pensar, criando situações de ensino que atenderiam a aprendizagem de cada aluno. Busquei sempre variar estratégias atividades para que eu pudesse atender aos diferentes ritmos de aprendizagem, respeitando a individualidade de cada um.Na Pedagogia do Oprimido Paulo Freire relata os objetivos da prática pedagógica do professor em relação à autonomia de ser e de saber do educando. Destaca a necessidade de respeito ao conhecimento que o aluno traz para a escola, visto ser ele um sujeito social e histórico, e da compreensão de que “formar é muito mais do que puramente treinar o educando no desempenho de destrezas” (p.15).
Em uma sala de aula cada um tem a sua história, sua cultura e deve ser valorizada, não tendo uma única identidade a turma. É importante aproveitar o que é diferente de cada um, estabelecer respeito relações de confiança dando valor as competências individuais.
Minha experiência com a turma do 4º ano na escola parceira para mim foi muito gratificante e enriquecedora, a equipe diretiva e professores formam um grupo de pessoas comprometidas com o desempenho do papel da Escola Artur Dorneles em sua comunidade. Acredito que para trabalhar com crianças precisamos oportunizar condições para que se tornem sujeitos conscientes, participativos e críticos tornando-os comprometidos de suas ações na formação da sociedade.
CONCLUSÃO
A prática de estágio supervisionado em Pedagogia realizado nos Anos Iniciais, na turma de 4º ano, da Escola Municipal de Ensino Fundamental Artur Dornelles, no bairro Santo Antônio em Charqueadas, RS, foi desenvolvido respeitando as Diretrizes Curriculares Nacionais da Educação Básica, preocupando-se com a leitura e interpretação, a construção escrita e do número, e com desenvolvimento do raciocínio lógico, além dos aspectos ambientais, culturais, das artes e dos valores, bem como, o desenvolvimento da aprendizagem no âmbito geral e do fortalecimento dos vínculos com família e a sociedade. A prática docente foi realizada conforme a legislação escolar vigente, norteada por um planejamento com objetivos claros e de estímulo a conhecer novos saberes, orientando os alunos para as disciplinas através de uma avaliação mediadora aproximando professor e aluno na construção da efetiva aprendizagem.
A aprendizagem da turma foi constituindo-se ao longo do estágio, entendo que a experiência com os Portadores de Necessidades Especiais foi muito significativa, necessitando de muito empenho, dedicação e conhecimento para superar a dificuldade de incluí-los de forma efetiva na turma, evitando que fossem negligenciados ou vistos como um problema a mais a ser resolvido.
Portanto, percebo como muito positiva a experiência de estágio realizada, evidenciando que a superação dos limites e dos problemas encontrados no cotidiano da sala de aula nos dá suporte para um desenvolvimento completo, aliando teoria e prática na formação do educador comprometido com as transformações sociais.
REFERÊNCIAS
BRASIL. Ministério da EducaçãoDiretrizes Curriculares Nacionais Gerais daEducação Básica/Ministério da Educação. Secretaria de Educação Básica. Diretoria de Currículos e Educação Integral.
CORAZZA, Sandra. O que quer um currículo? Pesquisas pós-críticas emEducaçãoPetrópolis.RJ:Vozes,2001.Disponível:http://www.portaleducacao.com.br/educacao/artigos/32639/a-perspectiva-demadalena-freire#ixzz3eTvSYnTn. Acesso em: 18 de junho de 2015.
FERREIRO, Emília. Pedagogia. Disponível em http://educarparacrescer.abril.com.br/aprendizagem/emilia-ferreiro-306969.shtml. Acesso em: 18 de junho de 2015.
FREIRE, Paulo. Pedagogia do Oprimido. 11. Edição Rio de Janeiro: Editora Paz e Terra, 1982.
HOFFMANN, Jussara Maria Lerch. Avaliação Mediadora: uma prática emconstrução da pré-escola à universidade.Porto Alegre: Educação & Realidade, 2000.
LIBÂNEO, José Carlos. Didática. São Paulo: Cortez Editora, 1990.
LUCKESI, Cipriano Carlos. Avaliação da Aprendizagem Escolar: Estudos eProposições. São Paulo: Cortez, 2006.
REVISTA NOVA ESCOLA: Grandes Pensadores. São Paulo: ed. Abril,2008.
VASCONCELLOS, Celso dos Santos. Planejamento Projeto de Ensino-Aprendizagem e Projeto Político-Pedagógico. São Paulo, 2000.
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