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Resenha do livro “Pedagogia da Autonomia” de Paulo Freire.

  • Chirlei Borba Machado;
  • 31 de mai. de 2016
  • 9 min de leitura

O autor Paulo Freire em sua obra “Pedagogia da Autonomia” - Saberes Necessários à Prática Educativa reuniu em seu livro alguns conceitos que, na opinião do autor, devem nortear o trabalho de educadores e educadoras comprometidos com uma concepção de educação libertadora e humanista, no entanto, também referiu o presente trabalho como forma de reflexão crítica aos educadores conservadores.

Capítulo1: Não há docência sem discência

De forma crítica e partindo do contexto educativo no qual o professor desenvolve seu trabalho com os alunoso autor defende a necessidade de uma constante reflexão crítica sobre a prática pedagógica como forma de estabelecer relação entre teoria e prática, potencializando assim o processo do fazer docente.

Em sua obra Paulo Freire descreve os seguintes conceitos necessários à prática do educador progressista:

1.1 Ensinar exige rigorosidade metódica; quando o educador democrático propicia em sua prática docente a criticidade e curiosidade de todos os envolvidos no processo educativo, instigando os alunos a construírem e reconstruírem novos conhecimentos, tornando-os autores de seu próprio aprendizado. Percebendo assim a importância do papel mediador do professor que deve ser o de ensinar a pensar e não apenas transferir conhecimentos.

1.2 Ensinar exige pesquisa; quando o educador percebe que enquanto ensina continua buscando, reprocurando e promovendo o respeito e o estímulo a capacidade criadora dos alunos.

1.3 Ensinar exige respeito aos saberes dos educandos; quando o professor precisa considerar os saberes dos alunos adquiridos ao longo de suas vivências e buscar contextualizar esses saberes com os conteúdos trabalhados, de forma que os alunos consigam estabelecer uma relação das disciplinas com sua realidade concreta.

1.4 Ensinar exige criticidade; quando o professor, durante seu fazer docente, promove uma curiosidade que inquieta e indaga, permitindo-a se criticizar e nesse processo de busca propicia o desenvolvimento da curiosidade epistemológica no trabalho com os alunos.

1.5 Ensinar exige estética e ética;quando o professor encara a experiência educativa como um processo de caráter formador do ser humano enquanto aluno, considerando a natureza do ser humano e não permitindo que os conteúdos sejam dissociados da formação moral do aluno.

1.6 Ensinar exige a corporeificação das palavras pelo exemplo; quando o professor desenvolve os conteúdos com os alunos em comunhão com o pensar certo e o seu fazer docente também certo de acordo com seu exemplo. O professor ensina pelo exemplo da palavra anunciada.

1.7 Ensinar exige risco, aceitação do novo e rejeição a qualquer forma de discriminação; quando o professor tem disponibilidade ao risco, a aceitação do novo, assim como não deve recusar o velho apenas por uma questão cronológica, pois o velho que marca uma presença no novo, continua novo. Também faz parte do pensar certo do professor a rejeição a qualquer forma de discriminação, esta que ofende a substantividade do ser humano e nega radicalmente a democracia. A principal tarefa do educador coerente que pensa certo é a de desafiar o aluno a quem comunica e com quem se comunica a produzir sua própria compreensão do que vem sendo comunicado através da dialogicidade.

1.8 Ensinar exige reflexão crítica sobre a prática; quando o professor ao pensar certo, através de um movimento dinâmico e dialético desenvolve uma prática docente crítica através do hábito de fazer e pensar sobre esse fazer. O discurso teórico do professor, tão importante para o exercício de uma reflexão crítica sobre a prática, precisa ser tão concreto que quase se confunda com a prática no cotidiano escolar. A reflexão crítica sobre a prática tem nas formações de professores seu momento ideal de discussão dialógica.

1.9 Ensinar exige o reconhecimento e a assunção da identidade cultural;quando o professor propicia ao seu educando condições para o desenvolvimento de suas relações com seus colegas, com o próprio professor e consigo mesmo a tal ponto do aluno se assumir como ser social e histórico, capaz de pensar, comunicar, criar, transformar, realizar sonhos e também sentir raiva por saber amar. Em sua prática de educação progressista o professor precisa exercer o respeito pela identidade cultural individual ou de classe dos educandos. Nesse sentido a formação democrática do educando é muito importante para a construção de uma sociedade menos feia e menos arestosa.

Capítulo 2: Ensinar não é transferir conhecimento

Um primeiro saber apontado como necessário ao desenvolvimento de uma educação progressista é o de reconhecer que saber ensinar não é transferir conhecimento, mas criar as possibilidades para a sua própria produção ou a sua construção.

2.1 Ensinar exige consciência do inacabamento; quando o professor crítico se permite aventurar-se de forma responsável ao novo conhecimento, predisposto à mudanças, à aceitação do diferente e ao exercício consciente do inacabamento diante da vida e da percepção em que se faz sujeito histórico com os outros e diante de um tempo de possibilidades e não de determinismo.

2.2 Ensinar exige o reconhecimento de ser condicionado; quando o professor se reconhece como um ser condicionado e que não se isenta às influências das forças sociais, de sua herança genética, social, cultural e como tal um ser inacabado. Um ser capaz de lutar para não ser apenas objeto, mas sujeito de sua história. De forma a reconhecer a si mesmo na inconclusão de sujeito inacabado em um permanente processo social de busca. Assumindo em sua prática educativa sua inconclusão enquanto docente.

2.3 Ensinar exige respeito à autonomia do ser do educando; quando o professor ao se reconhecer em seu inacabamento e respeitando isso, consegue exercer em sua prática educativa o respeito à autonomia, à dignidade e a identidade de cada um como um imperativo ético e não um favor para oferecer aos alunos.

2.4 Ensinar exige bom senso;quando o professor ao manter uma vigilância do seu bom senso, percebe a importância deste durante a avaliação de sua prática pedagógica. Ao reconhecer que de nada serve falar em liberdade e democracia ao mesmo tempo que impõe sua autoridade de forma arrogante e despreza a autonomia, a dignidade e a identidade do educando.

2.5 Ensinar exige humildade, tolerância e luta em defesa dos direitos dos educadores; quando o professor luta em defesa dos seus direitos e de sua dignidade e entende esse importante momento como parte de sua prática docente, enquanto ética. O combate em favor da dignidade da prática docente é tão parte dela mesma, quanto dela faz parte o respeito que o professor deve ter à identidade do educando, à sua pessoa, a seu direito de ser, exigindo de si o cultivo da humildade e da tolerância.

2.6 Ensinar exige apreensão da realidade; quando o professor se move com clareza em sua prática, conhecendo as diferentes dimensões que caracterizam a essência de sua prática, exigindo de si mesmo uma competência geral, um saber de sua natureza e saberes especiais, ligados à sua atividade docente. E não se omite diante de suas convicções, sem desrespeitar a criticidade do aluno.

2.7 Ensinar exige alegria e esperança; quando o professor reconhece a relação existente entre a alegria necessária à atividade educativa e a esperança. Esperança de que professor e aluno podem juntos aprender, ensinar, inquietar-se, produzir e juntos resistirem aos obstáculos impostos para a prática docente de forma alegre. O professor progressista como se reconhece não perde a esperança de fugir da conformidade e da acomodação a que muitos outros se entregam, desistindo assim de lutar contra a impunidade do mundo.

2.8 Ensinar exige a convicção de que a mudança é possível; quando o professor se percebe com ser integrante de um mundo que está sendo, portanto não é predeterminado e através dessa consciência de ser interventor da realidade vislumbra em seu fazer docente a capacidade de intervenção na realidade do mundo que o cerca. De maneira que através do inconformismo e da rebeldia em face das injustiças consiga se afirmar como educador progressista. Uma das tarefas fundamentais do educador progressista é provocar ao grupo uma nova forma de compreensão de sua realidade, a partir da compreensão inicial do próprio grupo.

2.9 Ensinar exige curiosidade; quando enquanto professor percebo que sem a curiosidade que me move, que me inquieta, que me insere na busca não aprendo e nem ensino. O fundamental é que professor e alunos saibam que a postura deles deve ser dialógica, aberta, curiosa, indagadora e não apassivada, enquanto fala ou enquanto ouve. O que importa é que professores e alunos se assumam epistemologicamente curiosos.

Capítulo 3:Ensinar é uma especificidade humana

Uma das qualidades essenciais que a autoridade docente democrática deve revelar em suas relações com as liberdades dos alunos é a segurança em si mesma. Segura de si, ela é porque tem autoridade, porque a exerce com indiscutível sabedoria.

3.1 Ensinar exige segurança, competência profissional e generosidade; quando o professor tem segurança ao exercer sua autoridade docente, de forma que esta se funda na sua competência profissional. Para ter força moral ao coordenar as atividades de sua classe o professor precisa levar a sério sua formação, estudando e se esforçando para estar à altura de sua tarefa. Outra qualidade indispensável à autoridade em suas relações com as liberdades é a generosidade. O educando que exercita sua liberdade ficará tão mais livre quanto mais eticamente vá assumindo a responsabilidade de suas ações.

3.2 Ensinar exige comprometimento; quando o professor se põe diante dos alunos, revelando com facilidade ou relutância sua maneira de ser, de pensar politicamente. Sem escapar à apreciação dos alunos, de forma que uma de sua preocupação central deve ser a de procurar a aproximação cada vez maior entre o que diz e o que faz, entre o que parece ser e o que realmente está sendo.

3.3 Ensinar exige compreender que a educação é uma forma de intervenção no mundo; quando o professor em sua prática educativo-crítica não duvida nem por um momento que a educação, como experiência especificamente humana, é uma forma de intervenção no mundo, seja na reprodução da ideologia dominante quanto no seu desmascaramento.

3.4Ensinar exige liberdade e autoridade; quando o professor consegue perceber a linha tênue existente entre a liberdade e a autoridade e superar a tradição autoritária tão presente entre todos sem cair na armadilha de resvalar para formas licenciosas de comportamento. E a partir dessa percepção descobrir a diferença entre o autoritarismo e o exercício legítimo da autoridade.

3.5 Ensinar exige tomada consciente de decisões; quando o professor entende que a educação, enquanto especificidade humana e como um ato de intervenção no mundo pode ser compreendida tanto como uma educação que aspira a mudanças radicais na sociedade e suas diversas áreas, quanto a que, pelo contrário, reacionariamente pretende imobilizar a história e manter a ordem injusta. O educador democrático, consciente da impossibilidade da neutralidade da educação jamais deve abandonar suas convicções que sustentam sua luta.

3.6 Ensinar exige saber escutar; quando o professor percebe a importância do saber escutar. O educador que escuta aprende a difícil lição de transformar o seu discurso, ás vezes necessário, ao aluno, em uma fala com ele. Escutar é obviamente algo que vai mais além da possibilidade auditiva de cada um. Escutar, no sentido aqui discutido, significa a disponibilidade permanente por parte do sujeito que escuta para a abertura à fala do outro, ao gesto do outro, às diferenças do outro. O educador que respeita a leitura de mundo do educando, reconhece a historicidade do saber, o caráter histórico da curiosidade, desta forma, recusando a arrogância cientificista, assume a humildade crítica, própria da posição verdadeiramente científica.

3.7 Ensinar exige reconhecer que a educação é ideológica; quando o professor reconhece como um saber igualmente fundamental à prática educativa do professor, no que diz respeito à força, as vezes maior do que pensamos, da ideologia. A aplicação de avanços tecnológicos com o sacrifício de milhares de pessoas é um exemplo a mais de quanto podemos ser transgressores da ética universal do ser humano e o fazemos em favor de uma ética pequena, a do mercado, a do lucro. Se de um lado, não pode haver desenvolvimento sem lucro este não pode ser, por outro, o objeto do desenvolvimento, de que o fim último seria o gozo imoral do investidor.

3.8 Ensinar exige disponibilidade para o diálogo; quando o professor vive uma abertura respeitosa aos outros e, de quando em vez, de acordo com o momento, toma a própria prática de abertura ao outro como objeto de reflexão crítica. Ao se abrir ao mundo e aos outros inaugura com seu gesto a relação dialógica em que se confirma como inquietação e curiosidade, como inconclusão em permanente movimento da história.

3.9 Ensinar exige querer bem aos educandos; quando o professor compreende que precisa estar aberto ao gosto de querer bem, às vezes, à coragem de querer bem aos educandos e à própria prática educativa de que participa. Significa esta abertura ao querer bem a maneira que o professor deve ter de autenticamente selar o seu compromisso com os educandos, numa prática específica do ser humano. É digna de nota a capacidade que tem a experiência pedagógica para despertar, estimular e se desenvolver nos professores o gosto de querer bem e o gosto da alegria sem a qual a prática educativa perde o sentido. O educador progressista precisa estar convencido como de suas consequências é o de ser o seu trabalho uma especificidade humana.

Reflexão crítica

Segundo Paulo Freire o professor progressista precisa considerar o aluno em todos os aspectos que constituem suas relações sociais e culturais, assim como sua visão de mundo. Nesse sentido de buscar uma educação mais humanista o professor reacionário precisa pensar na formação crítica do seu aluno e na sua potencialidade de construir novos conhecimentos e não apenas memorizar conteúdos ensinados de forma fragmentada e descontextualizada de sua realidade, impedindo que este aluno possa intervir em sua realidade de mundo, enquanto agente integrante e transformador de sua realidade concreta.

REFERÊNCIAS:

FREIRE, Paulo. Pedagogia da Autonomia: Saberes necessários à prática educativa-São Paulo: Paz e Terra, 1996.

 
 
 

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